Vamos continuar filhinha. Segue-Me no caminho do Calvário, oprimido sob o peso da Cruz.
Enquanto Meu Coração estava abismado de tristeza pela perdição eterna de Judas, os cruéis algozes, insensíveis à Minha dor, carregaram sobre Meus ombros chagados a dura e pesada Cruz em que haveria de consumar o mistério da Redenção do mundo.
Contemplai-Me, anjos do céu. Vede o Criador de todas as maravilhas, o Deus a Quem rendem adoração os espíritos celestes, caminhando em direção ao Calvário e levando sobre Seus ombros o lenho santo e bendito que irá receber Seu último suspiro.
Vede-Me também vós, almas que desejais ser Minhas fiéis imitadoras. Meu Corpo, destroçado por tanto tormento, caminha, sem forças, banhado de suor e de sangue. Sofro, sem que ninguém se compadeça de Minha dor! A multidão Me acompanha e não há uma só pessoa que tenha piedade de Mim. Todos Me rodeiam como lobos famintos, desejosos de devorar sua presa. É que todos os demônios saíram do inferno para tornar mais duro o Meu sofrimento.
A fadiga que sinto é tão grande, a Cruz tão pesada, que na metade do caminho caio desfalecido. Vede como Me levantam aqueles homens desumanos do modo mais brutal: um Me agarra por um braço, outro puxa Minhas vestes, que estão grudadas em Minhas feridas, tornando a abri-las. Este Me pega pelo pescoço, outro pelos cabelos, outros descarregam terríveis golpes em todo o Meu Corpo, com os punhos e até com os pés. A Cruz cai sobre Mim e seu peso Me causa novos ferimentos. Meu rosto roça sobre as pedras do caminho e o sangue que escorre por ele cai em Meus olhos, que estão quase fechados pelos golpes; o pó e a lama se juntam ao sangue e fico como o objeto mais repugnante.
Meu Pai envia anjos para que Me ajudem a Me sustentar, para que Meu Corpo não perca a consciência ao cair; para que a batalha não seja ganha antes do tempo e Eu perca todas as Minhas almas.
Caminho sobre as pedras que destroçam Meus pés, tropeço e caio uma e outra vez. Olho para os lados do caminho em busca de um pequeno olhar de amor, de uma entrega, de uma união a Minha dor, mas, não vejo ninguém.
Filhos Meus, que seguem Meus passos, não solteis vossa cruz por mais pesada que esta vos pareça. Fazei isto por Mim, pois carregando vossa cruz ajudar-Me-eis a carregar a Minha e, pelo duro caminho, encontrareis Minha Mãe e as almas santas que irão vos dando ânimo e alívio. Segui Comigo uns momentos e, a poucos passos, ver-Me-eis na presença de Minha Mãe Santíssima que, com o Coração transpassado pela dor, sai ao Meu encontro com dois objetivos: para recobrar nova força de sofrer à vista de Seu Deus e para dar a Seu Filho, com Sua atitude heroica, alento para continuar a obra da Redenção.
Considerai o martírio destes dois Corações. Quem mais ama Minha Mãe é Seu Filho. Não pode Me dar nenhum alívio e sabe que o fato de vê-la aumentará ainda mais Meus sofrimentos; mas também aumentará Minha força para cumprir a vontade do Pai.
Quem mais amo na terra é Minha Mãe; e não apenas não a posso consolar, como o estado lamentável em que Me vê proporciona a Seu coração um sofrimento semelhante ao Meu. Deixa escapar um soluço. A morte que sofro em Meu Corpo, recebe-a Minha Mãe em Seu Coração!... Como se cravam em Mim Seus olhos e os Meus se cravam também Nela! Não pronunciamos uma só palavra, mas quantas coisas dizem Nossos Corações neste doloroso olhar.
Sim, Minha Mãe presenciou todos os tormentos de Minha Paixão, que por revelação divina se apresentavam a Seu espírito. Além disso, vários discípulos, embora permanecessem longe por medo dos judeus, procuravam saber de tudo e informavam Minha Mãe. Quando soube que já se havia pronunciado a sentença de morte, saiu ao Meu encontro e não Me abandonou até que Me depositaram no sepulcro.
JESUS É AJUDADO A CARREGAR A CRUZ
Vou a caminho do Calvário. Aqueles homens iníquos, temendo ver-Me morrer antes de chegar ao fim, entendem-se entre si para buscar alguém que Me ajude a carregar a Cruz e requisitaram um homem das redondezas chamado Simão.
Olhai-o, atrás de Mim, ajudando-Me a carregar a Cruz e considerai, sobretudo, duas coisas: este homem carece de boa vontade; é um mercenário, porque se Me acompanha e compartilha Comigo o peso da Cruz, é porque foi requisitado. Por isso, quando sente demasiado cansaço, deixa cair mais peso sobre Mim e assim caio por terra duas vezes.
Este homem Me ajuda a carregar parte da Cruz, mas não toda a Minha Cruz.
Há almas que caminham assim atrás de Mim. Aceitam Me ajudar a carregar Minha Cruz, mas se preocupam ainda com o consolo e o descanso. Muitas outras consentem seguir-Me e, assim, abraçaram a vida perfeita. Mas não abandonam o interesse próprio, que continua sendo, em muitos casos, seu primeiro cuidado; por isso vacilam e deixam cair Minha Cruz, quando lhes pesa demasiado. Procuram a maneira de sofrer o menos possível, medem sua abnegação, evitam o quanto podem a humilhação e o cansaço e, talvez lembrando-se com pena daqueles que deixaram, tratam de procurar para si certas comodidades, certos prazeres.
Em uma palavra, há almas tão interesseiras e tão egoístas, que vieram Me seguir mais por elas do que por Mim. Resignam-se somente a aproximar-se do que lhes incomoda e que não podem afastar. Não me ajudam a carregar mais que uma parte de Minha Cruz; muito pequena e de tal modo que podem apenas adquirir os méritos indispensáveis para sua salvação. Mas, na eternidade, verão o quão longe ficaram no caminho que deveriam percorrer.
Pelo contrário, há almas, e não poucas, que, movidas pelo desejo de sua salvação, mas, sobretudo, pelo amor que lhes inspira a visão do que por elas sofri, decidem-se a seguir-Me no caminho do Calvário; abraçam-se à vida perfeita e se entregam ao Meu serviço, não para ajudar-Me a carregar parte da Cruz, mas para levá-la toda inteira. Seu único desejo é dar-Me descanso, consolar-Me; oferecem-se com este fim a tudo o que lhes pede Minha vontade, buscando tudo que possa Me agradar. Não pensam nem nos méritos, nem na recompensa que os aguarda, nem no cansaço, nem no sofrimento que lhes caberá. A única coisa em que pensam é o amor que podem Me demonstrar, o consolo que procuram para Mim.
Se Minha Cruz se apresenta sob a forma de uma enfermidade, se se esconde debaixo de um emprego contrário a suas inclinações e pouco conforme a suas aptidões, se vai acompanhada de algum esquecimento das pessoas que as rodeiam, aceitam-na com inteira submissão.
Ah! Estas almas são as que verdadeiramente carregam Minha Cruz, adoram-na, servem-se dela para buscar Minha Glória, sem outro interesse nem paga que o Meu amor. São as que Me consideram e glorificam.
Tende como coisa certa que, se não vedes o resultado de vossos sofrimentos, de vossa abnegação, ou o vedes mais tarde, nem por isso foram vãos e sem fruto mas, pelo contrário, o fruto será abundante.
A alma que verdadeiramente ama, não conta o que sofreu e trabalhou, nem espera tal ou qual recompensa; busca somente aquilo que crê dar glória para seu Deus. Por Ele, não regateia trabalhos nem fadigas. Não se agita nem se inquieta, nem muito menos perde a paz se se vê contrariada ou humilhada; porque o único móvel de suas ações é o amor, e o amor abandona as consequências e os resultados. Eis aqui o fim das almas que não buscam recompensa. A única coisa que esperam é Minha Glória, Meu consolo, Meu descanso; por isso tomaram toda a Minha Cruz e todo o peso que Minha Vontade deseja carregar sobre elas.
Filhos Meus, chamai-Me por Meu nome, pois Jesus quer dizer tudo. Eu lavarei vossos pés, aqueles pés que pisaram uma senda escorregadia e que agora estão feridos pelos choques contra as pedras. Eu os enxugarei, sararei, beijarei, e ficarão sãos, e já não conhecerão outra senda senão a que conduz a Mim.
Já estamos no Calvário! A multidão se agita porque se aproxima o terrível momento. Extenuado de fadiga, mal posso andar. Meus pés sangram pelas pedras do caminho. Três vezes caí no trajeto. Uma, para dar aos pecadores, habituados ao pecado, a força de se converterem. Outra, para dar alento às almas que caem por fragilidade, e às almas cegas pela tristeza e inquietação, para animá-las a levantar-se e a empreender com coragem o caminho da virtude. E a terceira, para ajudar as almas a sair do pecado na hora da morte.
"A Paixão" - Revelações de Jesus a Catalina Rivas
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