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IDÉIA GERAL DA VIDA MÍSTICA

É muito interessante tomarmos o conhecimento de como se encaminha a alma para a perfeição.

É importante, como católicos, percebermos todo esse desenvolvimento de como se atinge um grau elevado de santidade.

Há muito mais para nos aprofundar, mas o texto que aborda esse assunto do Padre Juan Arintero nos ajuda à compreender como uma alma unida gradualmente ao Senhor chega à um grau superior de perfeição.

Meditemos e conformemos o nosso viver de acordo com os divinos influxos do Espírito, pois Ele é o Consolador e o nosso Santificador.

Entreguemo-nos de alma e coração à essa vida íntima com o Senhor Jesus que, nos engrandece extraordinariamente e a partir daí, nos faz viver realmente a vida na sua plenitude existencial.



A MÍSTICA E A ASCÉTICA


- BREVE IDÉIA DAS VIAS CHAMADAS "ORDINÁRIAS" E "EXTRAORDINÁRIAS"; A INFÂNCIA E A ADOLESCÊNCIA ESPIRITUAL; A RENOVAÇÃO E A

TRANSFORMAÇÃO PERFEITA.


Místico é o mesmo que recôndito. Vida mística é a misteriosa vida da graça de Jesus Cristo nas almas fiéis que, morrendo para si mesmas, com Ele vivem escondidas em Deus

(Col 3,3); ou mais propriamente: "é a íntima vida que experimentam as almas justas, como animadas e possuídas pelo Espírito de Jesus Cristo, recebendo cada vez melhor e sentindo às vezes claramente seus divinos influxos - saborosos e dolorosos - e com eles crescendo e progredindo em união e conformidade com Aquele que é sua Cabeça, até ficarem n'Ele transformadas".

Por Evolução Mística entendemos todo o processo de formação, desenvolvimento e expansão dessa vida prodigiosa, "até que se forme Cristo em nós"(Gal 4, 19), e "nos transformemos em Sua divina imagem" (II Cor 3,18).


Essa vida pode viver-se inconscientemente, como vive uma criança a vida racional, ou propriamente humana; e assim a vivem os principiantes e em geral todos os que se chamam simples ascetas, ou seja, os que caminham para a perfeição pelos "caminhos ordinários" da consideração laboriosa dos divinos mistérios, a mortificação das paixões e o exercício metódico das virtudes e das práticas piedosas. E pode viver-se também conscientemente, com certa experiência íntima dos misteriosos toques e influxos divinos, e

da real presença vivificadora do Espírito Santo; e assim a costumam viver a generalidade das almas muito aproveitadas que já chegaram ao perfeito exercício das virtudes, e também outras almas privilegiadas a quem Deus livremente escolhe desde muito antes para levá-las mais rapidamente, como em Seus braços, pelas vias extraordinárias da contemplação infusa. As almas que assim vivem, mais ou menos conscientemente da vida divina, costumam chamar-se místicas ou contemplativas; místicas, por razão da íntima

experiência que têm dos ocultos mistérios de Deus; contemplativas, porque seu modo de oração habitual costuma ser esta contemplação que o próprio Deus amorosamente infunde em quem quer, quando quer e como quer, sem que faça parte o engenho humano para alcançá-la, nem aperfeiçoá-la, nem mesmo para prolongá-la; enquanto que o dos ascetas é a meditação discursiva que, com a graça ordinária que a ninguém se nega, nós todos a podemos conseguir e mesmo aperfeiçoá-la até vê-la convertida insensivelmente na chamada oração de simplicidade, que já é um tipo de contemplação meio infusa e meio adquirida, e que costuma ir acompanhada de certa presença amorosa de Deus, causada por um singular influxo do Espírito Consolador, para realizar a transição gradual do estado ascético ao místico.


A ciência que ensina os chamados caminhos ordinários - ou seja, os rudimentos, os primeiros graus - da perfeição cristã - e muito particularmente o modo de fazer bem a meditação para adquirir e desarraigar os vícios, e exercitar-se em todas as práticas da via purgativa com algumas da iluminativa e da unitiva - costuma chamar-se Ascética (exercitante), reservando-se o nome de Mística propriamente dita - embora essa em geral

abarque toda a vida espiritual - para a "ciência experimental da vida divina nas almas elevadas à contemplação".

Essa ciência é essencialmente exotérica, como a ótica o é para os cegos: ninguém a pode compreender nem a apreciar bem sem estar iniciado com a própria experiência. Mas ainda assim, aquilo que os grandes místicos conseguiram traduzir em linguagem exotérica - ainda que pareça a nós profanos tão enigmático como é para o cego o relativo às cores - vale ainda mais, ou nos dá a conhecer melhor os inefáveis mistérios da vida espiritual, do que quanto pode nos ensinar uma teologia especulativa, que os olha como que de fora e somente através dos enigmas da razão. "As coisas de Deus ninguém as conhece senão o Espírito do próprio Deus" (I Cor 2, 11);"e aquele a quem o Filho as quiser revelar" (Mt 11,27). Assim essas misteriosas noções que podem ser alcançadas sem experiência própria, e constituem a parte exotérica da Mística, por incompletas que sejam, oferecem grandíssimo interesse para poder reconhecer no possível os inefáveis mistérios da vida

espiritual e ver essa maravilhosa evolução da graça que termina na glória.

Ademais são indispensáveis a todo diretor espiritual, se quer cumprir seu dever guiando e não extraviando as almas. Quem, com verdadeiro espírito de piedade, vá tendo algo de sentido cristão, embora por falta de experiência não compreenda bem essas coisas, certamente não as terá por incríveis nem se espantará delas, como fazem os de pouco espírito, imitando os incrédulos.


Os simples ascetas - como ainda crianças na virtude - embora às vezes sintam ou percebam de algum modo as manifestações sobrenaturais, ainda não advertem claro o que são, não têm bastante consciência delas para saber discerni-las das naturais. Seus ordinários princípios de operação, com que se exercita e manifesta neles a vida espiritual, são as virtudes infusas; e essas, por serem sobrenaturais, agem de um modo conatural, ou seja, humano. Os dons do Espírito Santo - com que se opera supra modum humanum, exer-citando os misteriosos sentidos espirituais – ainda não influenciam senão raras vezes ou num grau muito remisso; e por isso mal se pode distinguir e reconhecer o sobrenatural senão em seus efeitos, nesses que se chamam "milagres da graça", nas mudanças que às vezes quase repentinamente uma alma experimenta quando, de tíbia que era, frágil, propensa ao mal e dificultosa para o bem, sem saber como, encontra-se fervorosa, firme, cheia de coragem e de santos desejos.

Agindo assim, humanamente, têm que se esforçar em caminhar como por seus pés, em excitar as próprias iniciativas para exercer bem a virtude e as dificuldades, guiando-se pela obscura luz da fé e segundo as normas da prudência cristã, sem mal notar os contínuos influxos do divino Consolador, que ocultamente os move, sustenta e conforta. Mas quando,

consolidados na virtude, vencendo-se a si mesmos, vão conformando mais e mais sua vontade com a de Deus, logo começam a sentir e notar certos desejos, impulsos ou instintos completamente novos e verdadeiramente divinos, que não provêm nem podem prover deles mesmos - pois os levam a algo desconhecido, a um novo gênero de vida e de perfeição muito superior - e que não os deixa repousar até o empreenderem fielmente e até

incendiarem-se com esses mesmos e em outros ainda mais altos e ardentes desejos. E conforme vão as almas seguindo com docilidade esses impulsos do Espírito, assim vão sentindo cada vez mais claramente seus toques, notando Sua amorosa presença e reconhecendo a vida e virtudes que lhes infunde.


Daí que pouco a pouco venham a agir principalmente por meio dos dons, que se manifestam já em alto grau e como algo sobre-humano; e desse modo, vêm a ter verdadeira experiência íntima do sobrenatural em si, e entram de cheio no estado místico. Nesse venturoso estado, a oração habitual costuma produzi-la notoriamente o divino Consolador, que "pede por nós com gemidos inenarráveis", e nos faz orar como convém; influenciam aqui já frequentemente e muito claramente todos os seus dons, especialmente o da sabedoria - com que se saboreia e experimenta o divino - e do entendimento, com que se penetra nos profundos arcanos de Deus: embora às vezes predominem o do temor, o da piedade, o da fortaleza, o da ciência ou o do conselho.

Pelo mesmo motivo que "o Espírito inspira onde quer, e deixa ouvir Sua voz, sem que saibamos de onde vem e para onde vai" (Jo 3, 8), certas almas privilegiadas começam a sentir muito cedo seus delicados toques; mas o comum é não senti-los claramente como sobrenaturais até acharem-se já muito adiantadas no caminho da virtude e tão unidas com a vontade divina, que já não apaguem nem abafem a voz do Espírito, nem resistam a Seus

impulsos, mas o sigam com docilidade, deixando-O agir livremente nelas.

Assim, pois, esta misteriosa vida divina a vivemos primeiro inconscientemente, à maneira de crianças, sem nos dar conta do novo princípio vital, que é o próprio Espírito Santo; o qual, vivificando nossas almas e renovando nossos corações, faz-nos ser verdadeiramente espirituais e viver como dignos filhos de Deus. Grande multidão de cristãos, e mesmo de re-

ligiosos - embora comprometidos a caminhar muito verdadeiramente para a perfeição evangélica - nunca saem dessa fase de infância espiritual, que é a própria dos ascetas e principiantes. E oxalá que muitos deles entrassem pelo menos aí, "convertendo-se e fazendo-se como crianças para poder ser admitidos no reino dos céus!". A essas crianças que ainda não advertem que são filhas de Deus - e que, com viver d'Ele, agem segundo suas próprias visões e caprichos, tendo ao Espírito como aprisionado - há que tratá-las

"como carnais e não como a homens espirituais" (I Cor 3, 1); pois ainda se deixam mover mais segundo as visões da prudência humana - que costuma participar muito da prudentia carnis - que segundo as da cristã que, unida ao dom do conselho, constitui a prudentia spiritus.

Mas se, exercitando-se verdadeiramente na virtude, vão entrando na maturidade de "homens perfeitos", logo começarão a luzir em suas frontes a luz e discrição do Espírito de Jesus Cristo, segundo a sentença do Apóstolo em (Ef 5, 14). E submetendo verdadeiramente a prudência da carne - que "é morte"- à do espírito - que é "vida e paz" - começarão a viver como "spirituales" = pneumáticos, que se movem por impulsos do divino Consolador e sentem mais ou menos Seus influxos vivificantes. E então, vendo-se movidos pelo Espírito de Cristo, já reconhecem que são filhos de Deus, pois esse mesmo Espírito de adoção que os anima, dá-lhes disso claro testemunho quando assim os move a chamar PAI ao Deus Onipotente (Rom 8, 6-16). Essa moção confiante a produz desde muito cedo o dom da piedade: chamamos a Deus com esse amoroso nome sem advertir que Seu próprio Espírito de amor é quem nos move a isso.

Quantos são assim inconscientemente movidos pelo Espírito, por serem, por isso mesmo, verdadeiros filhos de Deus, todavia não são mais que simples ascetas - pois ainda não têm clara experiência íntima do divino. Essa lhes dão os dons da ciência, conselho e entendimento, que nos fazem entrar na idade da discrição espiritual e ter consciência do que somos; e muito particularmente o da sabedoria que, com ajuda dos diversos sentidos espirituais, permite-nos reconhecer os toques do Espírito, e sentir, saborear e ver quão suave é o Senhor. - Então é quando plenamente se entra na vida mística, sem prejuízo de ter que voltar aos exercícios ordinários da ascética, sempre que cessa o sopro e a suave moção desse Espírito que inspira onde quer e quando quer, sem que ordinariamente saibamos aonde vai; por mais que, ainda assim, soprando suavemente nos leva com a vela cheia até o porto seguro. Quando cessa esse sopro há que navegar à força de remos, sob pena de sermos arrastados pelas ondas. Mas, segundo se vai entrando em alto-mar, vão se notando cada vez melhor as perenes e tranquilas correntes do Oceano de água viva e vão sendo mais contínuas as moções e inspirações.


Então "o ímpeto do rio da graça alegra a cidade de Deus", e o sopro do Espírito Santo costuma já mostrar de onde vem e para onde nos leva.

Daí a portentosa elaboração da graça que se realiza em grande parte durante a noite do sentido, para o submeter à reta razão ilustrada pela prudência cristã, e assim praticar bem as virtudes sobrenaturais, unindo-se a alma a Deus com perfeita conformidade de quereres, disposta a secundar suas moções, que vão se fazendo cada vez mais contínuas; mas se realiza ainda melhor na noite do espírito, que submete a própria razão sobrenatural à suprema e única norma infalível da direção quase absoluta do divino Consolador. Então é quando "às escuras e segura, pela secreta escada disfarçada", experimenta essa misteriosa renovação ou metamorfose que a faz passar da simples união conformativa, em que ainda persistia mais ou menos a iniciativa própria e a própria direção, à transformativa, onde já faz

Deus omnia in omnibus, único diretor e regulador ordinário de nossa vida.

Ali está a alma como a crisálida encerrada em seu casulo, inerte, aprisionada, no escuro, para sair outra, com órgãos a propósito para uma vida aérea, e não rasteira como a de antes, devendo apascentar-se já sempre do néctar das flores, e não das coisas grosseiras. Tal é a linda imagem de que se valeu Santa Teresa para expressar o que então passa na alma, que sai totalmente renovada e transformada e como com novos órgãos espirituais, para não viver já senão segundo o Espírito. Assim parece outra, com desejos, instintos,

sentimentos e pensamentos que não têm já nada de terreno nem mesmo de humano, e que são em todo rigor divinos, pois o próprio Espírito de Deus é quem os provoca e ordena. E então a alma nota e compreende que não só age com a virtude de Cristo senão que o próprio Jesus Cristo, com quem está já totalmente configurada (tendo morrido e ressuscitado com Ele, e recebendo a perfeita impressão de seu Selo vivo), é quem age e vive nela, por ela e com ela; e assim com plena verdade diz: «Vivo, mas já não sou eu, senão

é Cristo quem vive em mim», pois seu viver é o próprio Cristo, cujo Espírito lhe anima em tudo, reinando em seu coração com senhorio absoluto.


Introdução de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos


Texto do Pe. Juan González Arintero, OP, em sua Obra: "A Evolução Mística".


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