COSTUMES PENITENTES ALTAMENTE EFICAZES
- Conteúdos Católicos
- 16 de abr.
- 10 min de leitura
Se a penitência é um modo de vida - em pormenores concretos na vida diária -, como deveremos viver o sacramento da penitência?
Este sacramento é o ponto culminante dessa vida. É o cume de todos os nossos atos penitenciais de sacrifício e supera-os em várias ordens de grandeza, porque é o meio concedido pela Providência para recuperarmos e restaurarmos o vínculo da nossa vida sobrenatural com Deus.
Instituído por Cristo, é um ato de Deus que - por perdoar os pecados - pode equiparar-se à salvação do mundo.
Além disso, só produz efeitos pelo poder de Cristo, não pelos nossos atos nem pelos atos do confessor. O termo latino teológico para designá-lo é ex opere operato, que significa "pelo próprio fato de a ação ser realizada" (Catecismo, 1128).
Se queremos viver uma vida que leve à visão beatífica, não podemos nem devemos fazê-lo sem recorrer à confissão cuidadosamente preparada e plenamente integrada nos nossos hábitos de oração.
QUANDO ME CONFESSO SEMANALMENTE, SOU FORTE
A lgreja pede que recorramos a esse sacramento ao menos uma vez por ano para confessarmos os pecados mortais cometidos ao longo dele. É o que se costuma desıgnar por "cumprir o preceito pascal" porque muitos católicos o cumprem nessa época com o fim de fazerem uma boa Comunhão durante a Páscoa.
No entanto, se estudarmos a vida dos santos, veremos que a regra é a confissão frequente, pelo menos mensal. Sou do número crescente de católicos que procuram confessar-se semanalmente. Há menos de um século, a confissão semanal era uma prática normal em muitas paróquias, onde católicos jovens e mais velhos entravam aos sábados numa longa fila à espera de passar por uns breves momentos pelo confessionário. Não sei ao certo o que aconteceu para que essa tendência mudasse, mas estou certo de que não se deveu a uma diminuição do número e gravidade dos pecados cometidos pelos católicos.
Há muito boas razões para nos confessarmos cada semana ou cada mês.
Em primeiro lugar, é mais fácil do que fazê-lo uma vez por ano. Isto pode parecer estranho, mas é assim mesmo.
Quanto mais nos confessamos, melhor o fazemos. Exatamente como no jogo de tênis: com a prática, torna-se mais fácil e mais regular.
E mais fácil também porque o nosso exame de consciência abrange um espaço de tempo mais curto. O homem justo cai sete vezes ao dia: isto significa que, se as pessoas mais virtuosas da cidade se confessam uma vez por ano, têm 2.555 pecados de que confessar-se. O período de uma semana ou mesmo de um mês é mais fácıl de rememorar, e permite-nos uma confissão mais sincera e mais completa.
A maior frequência na confissão leva a um programa mais eficaz de crescimento na virtude e a uma vitória mais completa sobre os pecados habituais. O crescimento espiritual, como a melhora das condições físicas, não é coisa que se consiga facilmente. Todos gostaríamos de desfazer-nos dos nossos hábitos pecaminosos durante o sono, como eu gostaria de perder dez quilos até amanhã de manhã, ou de triplicar a minha força muscular dentro da próxima semana. Mas as mudanças de caráter, como as mudanças no corpo, raramente se dão de um dia para o outro. Só notamos a diferença após anos ou décadas. Precisamos, pois, de seguir uma dieta e de fazê-lo por um longo tempo.
As pessoas costumam sentir-se frustradas ao verem que repetem os mesmos pecados cada vez que se confessam.
Sim, pode ser humilhante, mas poderia ser muito pior. Por exemplo, pior seria se cometêssemos pecados novos! Se achamos que não melhoramos, pelo menos vemos que não pioramos, o que é provável que sucedesse se deixássemos de confessar-nos.
Confessar-se vezes seguidas das mesmas coisas é humilhante - não o nego -, mas, para um cristão, a humilhação não é má; afinal de contas, é o que nos faz humildes, e a humildade ataca o pecado na sua origem, que é a soberba.
Tudo isto é para o bem, porque Deus acolhe os humildes e resiste aos soberbos..., mesmo quando têm motivos para vangloriar-se.
Temos de procurar o sacramento da confissão durante a nossa longa caminhada, ainda que às vezes nos sintamos frustrados. Com o decorrer do tempo, a maioria das pessoas nota que não continua a confessar-se de todos os mesmos pecados que cometia há dez anos. Quando, mercê da graça e do nosso esforço, progredimos num sentido, descobrimos outras áreas que exıgem luta, e assim, se perseveramos, podemos ir para a frente, para o alto, para Deus.
A última, mas não a menos importante razão para nos confessarmos com frequência é a advertência de São Paulo aos cristãos de Corinto: «Portanto, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor (...). Esta é a razão pela qual há entre vós muitos adoentados e fracos, e muitos morrem» (1Cor 11, 27,30).
Se dizemos que não temos pecados, somos mentirosos.
E se pecamos e não nos confessamos, não somos bons anfitriões de Jesus, a quem recebemos na comunhão. Se aos domingos damos as boas-vindas ao Hóspede divino no nosso coração, deveríamos limpar a nossa casa aos sábados. Pensemos como limparíamos a nossa casa se tivéssemos convidado para nossa casa uma autoridade ou o nosso chefe.
Jesus contou-nos a parábola do homem rico que, encolerizado, convidou gente imprópria para as bodas do seu filho (Mt 22, 14). Compareceram bons e maus, mas só um foi expulso: o homem que não trazia a veste nupcial. O significado da parábola não pode ser mais claro: na Sua misericórdia, Deus, o Pai, convida todos à Eucaristia, que é o banquete de bodas do Seu Filho com a Igreja (Apoc 19, 9; 21,9-10). Compete-nos cuidar da preparação adequada para a ocasião, porque de outro modo poderia ser um sinal de in-gratidão ou de presunção. Jesus não é menos severo que São Paulo ao descrever as consequências: Então o rei disse aos criados: «Atai-o de pés e mãos e lançai-o às trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes».
TER UM CONFESSOR
A nossa confissão não deveria ser apenas frequente, mas programática. Deveria levar-nos a fixar metas para vencer o
pecado e crescer em virtude, e a lutar por atingir essas metas. E é possível fazê-lo mais facilmente quando se estabelece uma relação permanente com o confessor.
Um confessor que chegue a conhecer-nos chegará a conhecer melhor que nós os obstáculos entre nós e o céu. Um confessor habitual conhecerá as circunstâncias da nossa vida, as nossas tentações características, as nossas forças e fraquezas. E, com esses dados, poderá fixar-nos as metas: poderá averiguar o defeito dominante que causa os nossos pecados; poderá aconselhar-nos o melhor modo de progredir, como também rezará pela nossa luta, e nunca deveríamos subestimar o valor da sua oração. Um confessor habitual pode ser como um médico de família, que vem auscultar-nos e examinar-nos periodicamente, que conhece os nossos costumes, as circunstâncias da nossa vida e do nosso trabalho, e quais as coisas que realmente nos fazem mal.
Encontrar um confessor adequado requer tempo e esforço. Será necessário perguntar à nossa volta e talvez passar por alguns confessionários antes de dar com o sacerdote adequado, que não tem por que ser aquele que nos faça sentir bem. Há pessoas que vão de confessionário em confessionário até encontrarem um sacerdote que lhes diga que os seus pecados não são realmente pecados. Mas, como diz um dos meus amigos, se fizermos assim, «não estaremos em busca de um novo confessor: estaremos em busca de um deus novo, que nos dê a razão sobre o nosso modo de pensar a respeito da moral. Isso é consumismo dos mais graves.
Isso é andar à caça e captura de um médico que nos minta sobre os resultados de uma análise de sangue. Pode aliviar a nossa preocupação por um certo tempo, mas acabará por matar-nos». E assim será. E o que matará os que andam à procura de um novo deus é a sua própria morte espiritual pelo pecado mortal.
Discute-se se é melhor procurar um confessor que seja também diretor espiritual, ou é preferível um diretor espiritual diferente que realize um trabalho minucioso. Não é este o lugar adequado para estudar a solução. Farei apenas duas observações:
1) Uma direção que tenha continuidade é indispensável para um progresso que seja igualmente contínuo. É verdade o que diz um antigo provérbio: o homem que se tem a si mesmo por advogado tem um tolo por cliente. Você e eu precisamos de um diretor espiritual.
2) Como às vezes é extremamente difícil encontrar um sacerdote confiável, não deveríamos dar-nos ao luxo de ir à caça de um segundo sacerdote confiável para tomá-lo como diretor espiritual.
UM, DOIS, TRÊS...
Já encontramos o confessionário, já encontramos o momento e o sacerdote, mas ainda temos alguns preparativos a fazer. Temos que descobrir os pecados cometidos para fazer uma confissão completa e contrita.
O hábito que nos ajuda a fazê-lo chama-se exame de consciência. É uma revisão periódica dos nossos pensamentos, palavras, atos e omissões. É um trabalho da nossa memória com o fim de descobrirmos os nossos pecados e detectarmos qualquer hábito que nos provoque tentações. O exame faz-nos conscientes dos nossos progressos e dos nossos recuos, e mantém-nos centrados na realidade. Sem este honesto escrutínio, podemos encontrar inúmeras desculpas para as nossas infidelidades a Deus e ao próximo. Ou podemos desviar o nosso olhar para qualquer coisa menos para a nossa própria vida.
Devemos procurar fazer o exame ao menos uma vez ao dia. Como uma vitamina, um regime de comida ou uma contabilidade, não será eficaz se não formos fiéis a essa prática. Muitos autores espirituais dizem que o melhor momento para fazê-lo é antes de nos deitarmos, porque então já temos o dia por trás das costas. Mas o papa João XXIII aconselhava um segundo exame ao meio-dia, de modo a podermos corrigir o rumo enquanto ainda temos pela fren-
te um bom pedaço do dia.
Depois de cada exame, podemos anotar brevemente as nossas preocupações, lutas e faltas (servindo-nos de um código pessoal). Essas notas serão muito úteis para nos prepararmos para a próxima confissão.
Há numerosos métodos adequados para o exame de consciência. O mais simples consiste em repassar o dia cronologicamente, desde que se acorda até que se faz o exame.
Outro método generalizado consiste em considerar cada um dos Dez Mandamentos e ver como se viveram no dia que passou. Alguns devocionários oferecem uma série de perguntas a este propósito.
Outros gostam de fazer a sua própria lista de perguntas, baseadas na experiência das suas fraquezas ou nas sugestões ou queixas que recebem de colegas, amigos ou pessoas da família.
O nosso exame noturno deve ser breve, de cinco minutos aproximadamente, e terminar com um ato de contrição.
Mas para prepararmos a confissão, devemos empregar mais tempo na consideração diante de Deus dos nossos pecados.
A tradição ensina-nos que o exame de consciência deve dividir-se em dois: o exame geral e o exame particular.
O exame geral é exatamente o que acabo de descrever: um olhar rápido sobre os acontecimentos do dia.
O particular concentra-se em ver como foi que vivemos uma virtude concreta ou evitamos um pecado determinado.
Há pessoas que fazem este último exame ao meio-dia e o geral à noite.
Qual é o melhor momento, o lugar e o método para fazer o exame?
Só você mesmo pode responder a esta pergunta (ajudado, evidentemente, pelo diretor espiritual). Vá experimentando, até que acerte. O importante é não omitir esta prática, que tanto nos prepara para fazermos bem a nossa confissão.
Os sacramentos não são um feitiço mágico; conferem-nos a Sua graça ex opere operato, mas Deus não nos santifica sem a nossa colaboração. Cristo dá-nos a Sua graça livremente, mas nós só recebemos a que estamos preparados, desejosos de receber. Uma boa preparação abre a nossa alma para recebermos mais abundantemente a graça que Cristo nos concede.
... E JÁ!
O hábito da confissão é o mais eficaz de todos os atos de penitência, por muito que custe. A grande convertida americana, Dorothy Day, descrevia-o com todo o acerto do ponto de vista do penitente:
Ir confessar-se é duro: duro quando você tem pecados que confessar; duro quando não os têm e quebra a cabeça à procura da origem dos pecados contra a caridade, a castidade, a honra alheia, da causa dos pecados de difamação, de preguiça ou gula. Não é que insista demasiado nas suas constantes imperfeições e nos seus pecados veniais, mas deseja trazê-los à luz do dia porque o primeiro passo é livrar-se deles. O justo cai sete vezes por dia.
Começamos assim: "Fiz a minha última confissão há uma semana e de então para cá pequei. Estes são o meus pecados..."
Os meus pecados, não os pecados dos outros, nem as minhas virtudes, mas somente os meus feios, cinzentos, apagados e monótonos pecados.
Não é muito glamoroso nem romântico. É trabalho e, como tal, implica o suor do rosto, do mesmo modo que, na ordem natural, é o trabalho que nos põe o alimento na mesa e nos dá a sensação de estarmos saciados. O trabalho da confissão é o que nos concede a graça de progredir na vida espiritual e nos serve o alimento na mesa eucarística.
Do ponto de vista do confessor, São Josemaria Escrivá, um sacerdote do século XX, deu o melhor conselho que já vi para quando estamos diante do confessionário. Aconselhava os seus penitentes a seguir quatro C's, isto é, a fazer uma confissão completa, contrita, clara e concisa.
Completa - Não omita nenhum pecado mortal, é claro, mas cuide de incluir também os veniais que lhe criam problemas. E o mais importante: não suprima os pecados que o envergonham. É melhor começar a confissão pelo pecado mais duro de admitir. Depois, tudo será mais fácil.
Contrita - Arrependa-se dos seus pecados. Lembre-se de que foi a Deus que você ofendeu, e que Ele o amou incansável e generosamente.
Clara - Fuja de sutilezas. Não oculte os seus pecados com eufemismos. Certifique-se de que o sacerdote entende o que você lhe diz.
Concisa - Não é necessário entrar em detalhes supérfluos.
Costuma acontecer que, quando o fazemos, o que procuramos é desculpar-nos inventando circunstâncias especiais ou acusando os outros. Além disso, o tempo do sacerdote é muito valioso e tem de empregá-lo ouvindo outro penitente.
Repito: pense que o mais importante é que você se confesse! Não o deixe para mais adiante.
Das Obras de Scott Hahn
O grande teólogo Scott Hahn nos ensina acima métodos excelentes de como nos confessar bem, nos preparando da melhor maneira.
A confissão é algo extraordinário, pois nos limpa a alma manchada de pecados e nos abre novamente à graça de Deus, pois recebemos a absolvição de Cristo, na pessoa do sacerdote que O representa.
Todos que se aproximam do confessionário, devem ter consciência disso, da dimensão que é a confissão.
Respeitar devotamente este sacramento de cura e se esforçar para se manter em estado de graça por mais tempo possível.
São Josemaria Escrivá esclarece-nos e ajuda-nos como conseguirmos uma boa confissão.
Que seja do proveito de todos que lerem este artigo dos Conteúdos Católicos, de forma que mais eficazmente possam se confessar e adquirir mais perfeitamente as virtudes necessárias a este estado.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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